O Estado de São PAulo - 23/07/2007
Karen Houppert*
Em maio, o FDA (agência dos EUA que regula remédios) aprovou uma nova pílula anticoncepcional, o Lybrel. Tão eficaz na prevenção da gravidez como as outras (98% de eficácia), essa tem uma “vantagem” - as mulheres que a tomarem nunca mais vão menstruar.
Preparem-se, mulheres, para uma saraivada de publicidade e de pesquisas ressaltando os efeitos debilitantes da menstruação.
Mas a história mostra que tais debates são cíclicos. Parece que cada vez que as mulheres começam a exigir acesso a isso ou aquilo, há um surto de estudos “provando” que os ciclos menstruais as tornam inadequadas. Nas décadas de 1870 e 1880, quando os americanos estavam debatendo o valor da educação superior para mulheres, uma lufada de pesquisas afirmou que a constituição cíclica das mulheres as tornava incapacitadas para um trabalho mental e físico sistemático. Henry Maudsley, um médico britânico, refletiu a opinião popular, revestida de verdade científica, ao afirmar que a menstruação condenava as garotas ao fracasso na faculdade.
Já na década de 1940, quando precisaram das mulheres nas fábricas e de recrutas, o Departamento de Guerra produziu filmes falando às mulheres da abundância de provas científicas de que os períodos menstruais não eram problema. Mas, então, a guerra acabou e apareceu um novo lote de estudos demonstrando que o ciclo menstrual fazia as mulheres menos eficazes que os homens.
Céticos talvez sugiram que pesquisas destacando as conseqüências penosas da menstruação vêm à tona sempre que a sociedade se sente ansiosa com a expansão dos papéis das mulheres - digamos, a possibilidade de uma mulher ocupar a Casa Branca.
Embora a suspensão da menstruação possa ser boa notícia para 8% das mulheres que têm períodos menstruais debilitantes, o resto de nós pode ficar admirada com todo esse estardalhaço. Certamente, ficar menstruada às vezes pode ser incômodo, mas depois da traumática menarca a maioria de nós se acostuma. Essa constatação não é particularmente lucrativa para a Wyeth, fabricante do Lybrel, levando em conta seu faturamento anual de US$ 1,7 bilhão com venda de anticoncepcionais nos EUA.NYT
* É autora de The Curse: Confronting the Last Unmentionable Taboo, Menstruation, 264 págs., Ed. Farrar, Straus & Giroux, 1999
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