Social Bar

Biologia evolutiva fornece pistas para o tratamento de doenças coronarianas

O título da palestra de Alan Templeton poderia assustar os leigos. “Usando a biologia evolutiva para estudar doenças arteriais coronarianas”. Qual seria a relação das duas coisas? Templeton colocou uma primeira pergunta que seria importante: já que existe a seleção natural, por que nascemos com genes que são danosos à saúde, como o da diabetes tipo 2 ou o que favorece o acúmulo de colesterol nas artérias? O cientista explicou que isso é relacionado à evolução e diferenciação dos humanos. “Em populações que passaram historicamente por muitas temporadas de fome, a natureza selecionou indivíduos que pudessem ter reservas de gordura, essencial para a sobrevivência. Hoje, com a comida abundante, os mesmos genes, antes bons, provocam obesidade e diabetes”, disse o geneticista. As afirmações foram feitas em palestra realizada no último dia 30 dentro programação cultural paralela à exposição Revolução Genômica (veja lista com próximos eventos)

Templeton falou então sobre as suas pesquisas sobre o gene APOE (apolipoproteína E), que leva a gordura pela corrente sangüínea até o cérebro. Ele explicou que os seres humanos nascem um pouco mais gordinhos que os outros primatas, já que nossos bebês recém-nascidos precisam de uma reserva de gordura para continuar a formação do cérebro até um ano depois do nascimento. Então, na infância, o APOE é importante. “Nos seres humanos recém-nascidos o que vale é a sobrevivência do mais gordo (survival of the fattest, no original em inglês)", brincou. Mas, em adultos, variações desse gene estão associadas à formação de placas de colesterol que obstruem as artérias e favorecem o aparecimento do mal de Alzheimer. Quando apresentou essa descoberta, a imprensa disse que Templeton havia achado o “gene assassino”. Idéia que ele fez questão de combater. Afinal, o gene é responsável por apenas 5% do colesterol produzido pelo homem. O resto é conseqüência de fatores ambientais.

Para ele, os genes não são definidores. “Uma mudança de ambiente, como a dieta, muda um conjunto de características.” Templeton citou o exemplo da população da Nova Guiné, que provavelmente por muitos anos sofreu com a má-nutrição, mas tinha uma estrutura genética adequada para suportar a falta de comida. Mas o contato com a hipercalórica dieta ocidental fez com que 50% da população se tornasse diabética. Através do estudo dessas populações e as interações do gene com o ambiente será possível identificar os principais genes associados ao chamado “mau colesterol”, que adere às paredes das artérias e provoca infartos. “É importantíssimo estudar as doenças arteriais coronárias. Já que em 20% dos casos o ‘primeiro sintoma’ é a morte.”

Alan Templeton tem um histórico acadêmico bem interessante. Ele é um biólogo com PhD em genética, pela universidade de Michigan, mas seu mestrado e boa parte dos seus estudos se apóiam em cálculos estatísticos. E isso quer dizer muito sobre as pesquisas dele. Há bastante matemática envolvida, modelos computacionais, tudo aplicado a encontrar o “gene denominador comum” em uma dada população. Isso ajuda a identificar não só a origem de algumas características e doenças, mas também resolver alguns mistérios sobre a evolução. “Boa parte dos meus orientandos vêm da área da computação. O seqüenciamento, a parte de biologia, já não é mais o problema”, afirmou. Para Templeton, os fatores que limitam os avanços nas pesquisas genéticas hoje são principalmente técnicos: precisa-se de máquinas mais poderosas e algoritmos mais eficazes para analisar as amostras coletadas. “A biologia computacional é um campo com grande futuro”, opinou.


Fonte: FAPESP Online:


Nenhum comentário:

Postar um comentário